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SXSW

Choque de gerações: como liderar a Gen Z

Entrada da Geração Z no mercado de trabalho e transformação das prioridades tem chacoalhado as relações profissionais e criado desafios para as lideranças


10 de março de 2024 - 21h35

Choque de gerações

Valerie Capers, Gali Arnon, Novo Constare e a moderadora Megan Sauer  (Crédito: Taís Farias)

Com o aumento da expectativa de vida e profissionais permanecendo, cada vez mais, tempo no mercado de trabalho, os tradicionais choques de gerações tem sido exponenciados. No mesmo ano em que debate temas como solidão e infelicidade, o South by Southwest também foi espaço para que muito executivos e painelistas falassem sobre os desafios de liderar diferentes gerações.

Rohit Bhargava, fundador e chief trend curator da Non-Obvious Company, afirmou em seu painel que 90% das interações intergeracionais acontecem no trabalho. “Ou seja, nós só estamos interagindo com aqueles que são como nós”, concluiu o autor. Para ele, essa padronização das relações seria, inclusive, um dos motivos que impedem as pessoas de saírem de sua zona de conforto e do pensamento óbvio.

Geração Z no trabalho

Quando o assunto é trabalho, entra em cena um outro fator: a entrada da Geração Z no mercado. Não é incomum encontrar nas rodas de conversa ou mesmo em forma de meme nas redes sociais reclamações sobre a postura dos jovens no trabalho. As principais queixas envolvem falta de interesse e comprometimento, necessidade constante de aprovação e um imediatismo pela evolução profissional e, claro, hierárquica.

Ao mesmo tempo, popularizou-se a tendência batizada de quiet ambition que indica que a ambição dos jovens da Geração Z não necessariamente inclui estar na liderança das companhias. Novo Constare, CEO e cofundador da Indeed flex, aplicativo de trabalhos temporários e flexíveis, enxerga a Gen Z com desejos ambíguos: “Eles querem dinamismo, mas estabilidade também”.

Mas Valerie Capers, chief legal officer da Handshake, plataforma de empregos para estudantes, defende que o público dessa geração teve sua transição da faculdade para o mercado de trabalho marcada por anos de pandemia da Covid-19, recessão econômica e incerteza. Para a executiva, a Geração Z é mal interpretada. “Eles são muito apaixonados e comprometidos com o que acreditam. Eles querem um salário, mas um salário que signifique algo”, defendeu Valerie.

Um ponto de conflito seria que a expectativa e o conceito do que é sucesso teria se transformado entre as gerações. “A Gen Z está procurando formas de se sentirem completos, em muitos níveis. O trabalho é só um deles”, aponta Gali Arnon, chief business officer da Fiverr, empresa de prestação de serviços. Isso seria uma mudança não só para as gerações mais jovens. “Por muitos anos, o trabalho foi estável. E, agora, tudo o que nós sabíamos está mudando”, acrescenta.

Respeito radical

“É o trabalho da geração mais jovem dizer à mais velha onde nós erramos”, defendeu Kim Scott, autora dos livros Radical Candor e Radical Respect. Ela também contrapôs a ideia de que os profissionais mais novos não lidariam bem com feedbacks a respeito do seu trabalho. “Quando sou aberta ao feedback do meu time, eles também serão para o meu”.

Em seu livro mais recente, Kim defende como uma cultura corporativa baseada no respeito pode melhorar a colaboração e a produtividade. “A maior parte dos líderes não quer criar um ambiente coercitivo, apesar de frequentemente o fazerem”, explica o Scott.

Ela conta que um dos motivadores do seu livro foi a interação com a vice-presidente de uma grande empresa de tecnologia. Após uma palestra de Kim na empresa em questão, a vice-presidente – que é uma mulher negra – disse que os profissionais tinham mais resistência aos seus feedbacks por atribuírem a ela estereótipos e preconceitos.

“É importante perceber que, às vezes, não temos noção do nosso impacto nos outros”, reflete a autora de Radical Respect. “Quando você está em uma posição de poder, é muito mais fácil ser o bully”.

Ela continua: “os líderes precisam criar consequências para esse tipo de atitude. É sua responsabilidade não dar uma plataforma para que as pessoas continuem”.

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