ESG
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Por Naiara Bertão, Prática ESG — São Paulo


Desde 2021, quando foi sediada em Glasgow (Escócia), a Conferência das Partes (COP) - mais conhecida como Conferência do Clima das Nações Unidas – se tornou um ponto de encontro anual de executivos de sustentabilidade, consultores, políticos e palco de anúncios importantes sobre empresas e estratégias do setor público. Este ano, a COP 28, que acontecerá em Dubai, nos Emirados Árabes, não deve ser diferente.

Mas, apesar do crescente interesse do público corporativo, uma pesquisa recente feita pela Fundamento Análises com mais de 300 executivos (a maioria que trabalha com o tema de sustentabilidade) mostra que o engajamento desse grupo ainda é baixo.

Do total de entrevistados, 91% disseram que nunca enviaram ninguém a uma conferência do clima, em anos anteriores. Para o evento de 2023, apenas 54 companhias (17,4% do total) já se programaram para ir e três (1%) disseram que a associação do setor será a representante da empresa no evento. Uma parte (3,5%) ainda não se decidiu, mas a maior parte mesmo – 243 companhias, 78,1% do total – não planeja ir.

Adriana Panzini, líder da Fundamento Análises, chama a atenção para o dado de dois terços dos que já têm passagem comprada para Dubai afirmarem não ter nenhuma atividade preparatória para a conferência, como debates com a equipe sobre os tópicos a serem abordados, estudos e projetos para identificar como a empresa pode se adequar às discussões globais após a COP e preparação dos líderes e outros porta-vozes que participarão do evento. Quase 43% responderam que vão apenas como ouvintes e não terão papel mais ativo na COP 28.

“A participação nos debates climáticos ainda é restrita e incipiente, e o nível de preparação das empresas que vão participar é distante do ideal”, comenta Panzini. Ela adiciona que a COP traz oportunidade para as empresas divulgarem suas ações e até anunciar novas deliberações. Mas destaca que a falta de preparação desperdiça essa vantagem.

Um dado que chamou a atenção da equipe foi o de que 130 respondentes foram cortados da análise final porque não conseguiam responder sobre como a empresa trabalha riscos e oportunidades relacionadas às mudanças climáticas. Para Panzini, é um sinal de que muitas pessoas que ocupam cadeiras de sustentabilidade e ESG mal conhecem as próprias práticas da empresa.

Para Cristiano Lagôas, presidente da Associação Brasileira de ESG, o alto percentual de executivos não engajados está alinhado com o resultado de outra pesquisa, da Fundação Getulio Vargas (FGV), divulgada na semana passada. O levantamento da FGV traz que 94% das pessoas acreditam que o Brasil passa por uma mudança climática e 91% pensam que o fenômeno é causado principalmente pela atividade humana, mas apenas 56% acreditam que isso seja grave.

“É um pensamento individualista do brasileiro. Não pode só pensar no próprio umbigo, é preciso olhar para fora e como contribuir com a sociedade”, comenta Lagôas. Para ele, as empresas têm um papel importante nesta mudança de mentalidade.

Cita entre ações, por exemplo, o uso das embalagens dos produtos para passar informações e provocações aos clientes; a criação de competições entre equipes internas para desenvolverem ações ambientais e sociais; pensar em formas de engajar fornecedores em metas sustentáveis, entre outras.

“Estamos falando de empresas com milhares de funcionários e outros tantos stakeholders. Se elas promoverem mudanças, o potencial de impacto é muito grande”, aponta.

Márcio Mendes, diretor de Marketing e conselheiro deliberativo da ABRAPS (Associação Brasileira dos Profissionais pelo Desenvolvimento Sustentável) atribui ainda o baixo engajamento dos executivos ao medo de se exporem e, com isso, abrirem margem para questionamentos sobre as ações de sustentabilidade da companhia.

“O ESG ainda é recente no meio corporativo e, quando ainda é uma novidade, é difícil ter conceitos bem estabelecidos sobre como agir. Muitas empresas têm medo de falar algo e serem taxadas de prática de greenwashing, e isso está atrapalhando o desenvolvimento de programas de ESG mais amplos e colaborativos”, diz.

Termômetro de efetividade da COP

O estudo da Fundamento Análises traz ainda as expectativas dos executivos com relação ao que a COP de Dubai pode agregar a sua empresa também são pouco claras para 22% das pessoas. Outras 13% não acreditam que haverá impacto concreto algum. Na ponta aposta, 48% reconhecem que será necessário se adaptar a medidas tomadas por governantes na conferência deste ano, e 1% até citam especificamente que afetará os processos de transporte e logística.

Para os que acreditam que seus negócios sentirão algum impacto, o aprimoramento da estratégia ESG foi apontado como a principal ação pós-COP, apontado por 44% dos entrevistados. Outros 17% colocam a redução da poluição e aumento da eficiência energética; 15% a adaptação a novas regulamentações; 11% o maior alinhamento aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU; 9% o aculturamento interno e ações de conscientização; e 4% citam a necessidade de alterações no processo de produção com impacto ambiental.

Apenas uma fatia pequena (16%) da amostra acredita que as resoluções do evento trarão impacto positivo e oportunidades de negócios para sua organização.

Marta Dourado, CEO e fundadora da Fundamento Grupo de Comunicação, chama a atenção para o “descolamento” de discurso dos executivos. “Por um lado, vemos que só 22% das empresas vão mandar alguém para a COP e só 4% vão se envolver nas atividades. Por outro, 48% se dizem otimistas em relação a alguma resolução a partir das discussões do evento. Para mim, isso mostra um descolamento entre o que eles esperam e, de fato, fazem”, pontua.

Ela acredita que a explicação pode estar em um pensamento encontrado entre brasileiros, de que é responsabilidade do governo fazer as mudanças necessárias para o Brasil se desenvolver, em termos sociais, econômicos e também de sustentabilidade. E que muitos ainda deixam para tomar decisões de negócios quando uma nova legislação é aprovada, como poderá ser o caso da aprovação do mercado de carbono regulado.

“A impressão que dá é que tem gente esperando regulamentação do governo para fazer o que tem de fazer”, diz. “Pode ser fator cultural e até o fato de a agenda de sustentabilidade ser algo relativamente novo, de 30 anos para cá, desde a ECO 92, no Rio de Janeiro.”

O estudo traz ainda um recorte específico com respostas de presidentes de empresas. Para este grupo, os tópicos considerados mais importantes e com maior expectativa de resultados concretos no pós-COP são mais relacionados a estratégia do negócio do que dos executivos de sustentabilidade. Os CEOs apontam, por exemplo, necessidade de políticas de transição energética e energia limpa (citado por 16%), estratégias de financiamento para ajudar as nações em desenvolvimento no combate às emissões de GEE (13%) e estratégias para garantir a “floresta em pé”, “produzindo sem desmatar com apoio de tecnologia e boas práticas (12%).

A maioria dos executivos entrevistados (78%) está otimista quanto à participação e poder de influência do Brasil nas deliberações da COP 28. De forma geral, isso se deve, de acordo com a análise, ao fato de o país tem a maior floresta do mundo em seu território, apresenta ampla biodiversidade, já oferece fontes de energia limpa e é um dos principais produtores mundiais de alimentos.

Esses participantes também acreditam que o atual governo está mais empenhado em buscar soluções climáticas e ter um papel ativo em nível global, especialmente em mercados como hidrogênio verde e biocombustíveis.

Entre os 22% que não possuem expectativas favoráveis para a conferência do clima, a visão de que o Brasil tem questões até mais latentes do que traçar um protagonismo internacional, como a sua dificuldade em lidar com questões internas, como prevenir e mitigar riscos climáticos, protegendo a população mais vulnerável. A dificuldade de articulação política para colocar projetos em prática e até a corrupção também são citados como argumentos pelos pessimistas.

COP de Belém

Ainda que a COP que será sediada na cidade de Belém, no Pará, só acontecerá em 2025, por ser no Brasil, havia uma expectativa da equipe de pesquisa de que as empresas já teriam decidido pela participação. Porém, 55% disseram que ainda não sabem se comparecerão e apenas 25% disse que já decidiram ir.

As perguntas foram feitas entre 9 de outubro e 9 de novembro, ou seja, em data já próxima à COP deste ano, que será de 30 de novembro a 12 de dezembro.

“Em Dubai há a distância e o custo como desculpa, mas Belém não. Acreditamos que as empresas estão precisando se informar mais sobre a importância do evento e o que elas podem tirar dele para aplicar em seus negócios”, finalzia Lagôas.

COP se tornou um dos eventos mais importantes para discutir urgência climática em nível global — Foto: Peter Dejong/AP
COP se tornou um dos eventos mais importantes para discutir urgência climática em nível global — Foto: Peter Dejong/AP
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